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Archive for the ‘Nikolas Ferreira vs Aborto Masculino’ Category

Aos 26 anos ele é um dos vereadores mais bem votado no Estado de Minas Gerais. Formado pela Pontifícia Universidade Católica, também já morou e estudou fora do país. Nikolas Ferreira me faz lembrar um desaparecido das redes sociais: Alysson Vidal, o qual eu tive um épico embate no Facebook sobre seu preconceito firmado na cristandade contra os homossexuais.

O meu intuito aqui não é cometer algum crime (cibernético) contra o cidadão Nikolas Ferreira, mas questioná-lo no campo das ideias sobre suas diversas declarações “cristãs” acerca de temas como: pessoas transexuais, feminismo, identidade de gênero e a visão cristã da política como arma para os “cristianistas”.  

Esta é a primeira de uma série de textos nos quais estarei me contrapondo aos discursos do vereador belo-horizontino sobre os diversos temas que o mesmo insiste em “esclarecer” aos seus chamados irmãos e irmãs de fé; argumentos esses que refutarei com tréplica também. Vamos lá?

Num texto publicado na Super Interessante em 30 de abril de 1998, Carlos Dias dramatizou que somos um espermatozoide vencedor, descrevendo assim, a mais importante competição de toda a nossa existência na qual derrotamos 300 milhões de concorrentes levando moléculas de DNA ao óvulo que, misturadas ao DNA do óvulo, inicia-se a construção do ser humano como um todo. Parece que cada um tem uma ideia particular de onde exatamente começa a vida, não é mesmo?

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O jovem vereador qualifica todas as mulheres que se identificam com a esquerda de “abortistas”; contudo, desconhece claramente o posicionamento bíblico quanto ao aborto masculino – a masturbação. Poderíamos acusa-lo de ser um “abortista” também? Por que não? Base na Bíblia dele para tal já temos e é o que vou provar a seguir.

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No Podcast Flow, o Nikolas expôs que uma bactéria descoberta no planeta Marte é considerada vida e concluiu com a seguinte pergunta: “O início (da vida) começa aonde”? Confesso que também fico em dúvida quando vejo a clara mensagem bíblica de que o sêmen é “vida”.

O professor de ética cristã James B. Nelson do United Theological Seminary em seu texto publicado para a revista Christianity and Crisis esclareceu:

“Embora a história de Onan (Gn 38.1-11) não trate diretamente de atividade sexual, dá pistas importantes sobre razões de sua antiga condenação. A recusa de Onan de engravidar sua cunhada viúva, expressa na deliberada interrupção da ejaculação, foi interpretada pelo escritor bíblico como séria violação do decreto divino a ponto dele ser morto por Javé. […] a história representa a forte ênfase na procriação característica da interpretação hebraica da sexualidade. […] a história baseia-se em parte num mal-entendido presente na Bíblia toda. A mentalidade pré-científica, principalmente masculina, supunha que o sêmen continha a totalidade da vida nascente. Sem conhecer o processo de ovulação, achava-se que a mulher era apenas o espaço incubador, “terra para a semente”. Daí a ideia de que o desperdício não produtivo do sêmen equivalia à deliberada destruição da vida humana. Quando ocorria na masturbação masculina, em atos homossexuais masculinos ou no coitus interruptus, o julgamento era tão severo como no caso de aborto ou assassinato”.

Corroborando exatamente com James B. Nelson, Walter Wink afirmou:

“O conhecimento hebraico pré-científico entendia que o sêmen continha a totalidade da vida que iria nascer. Sem conhecer óvulos nem ovulação, achavam que a mulher fornecia apenas o espaço para a incubação. Era por isso que a perda de sêmen sem propósito de procriação – coito interrompido (Gn 38.1-11), atos homossexuais e masturbação masculina – era considerada semelhante ao aborto ou ao assassinato. (Atos homossexuais femininos e masturbação feminina não eram vistos com a mesma severidade”.)

O vereador assegurou também ao entrevistador do Podcast não ser mais “virgem” e ainda acrescentou que “isso não é mais uma novidade”. Essa relação sexual foi para a procriação? Não, porque não veio bebê algum. Foi um coito interrompido como no caso de Onan? Se foi, o vereador deveria ter sido punido pelo deus bíblico? A jovem-mulher envolvida nesse ato tomou anticoncepcional? Quem cometeu o crime de aborto dos dois? Ambos? Se ela tivesse engravidado e quisesse ter o filho, o vereador a assumiria como sua esposa até que a morte os separasse?

Biblicamente já poderíamos denomina-lo “adúltero” por ter relações sexuais fora do casamento? O adultério no livro de Levítico era punido com a morte, tanto para o homem quanto para a mulher (Cfr. Lv 20.10 e 24.2). Porém, o cristo – apesar de muitos pastores de quinta pensarem ter atenuado a sentença de Levítico – problematizou ainda mais o tema ao afirmar que qualquer (homem) que olhar para uma mulher e desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração (Cfr. Mt 15.19). É claro que o Nikolas não teria a audácia em afirmar que NUNCA desejou uma mulher “em seu coração”. Podemos concluir que todos os homens são adúlteros por essência e para os tais deixo as sentenças bíblicas em Hebreus 13.4 e Gl 5.19-21. E em especial, os versículos de Mc 10.11-12 e Mt 5.32 para os crentes divorciados como o ídolo político número um do vereador:

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A cristandade atualmente tem ignorado a crítica histórica a respeito de textos bíblicos que abordam o divórcio, a posição da mulher na sociedade e na igreja primitiva e a própria compreensão que o cristo histórico tinha dele mesmo. A exemplo, temos um presidente que foi batizado no rio Jordão (Israel) por um pastor hoje encarcerado, mesmo estando no terceiro casamento e depondo diante da mídia para todo o Brasil que usou o auxílio moradia para “comer gente”. Não obstante, há algo mais impactante – além do que os crentes considerarem um “simples adultério” – que o jovem não teve a coragem de revelar: se TODO cristão é um onanista ou não. Ainda assim, para um homem de 26 anos que disse ter um acordo com uma jovem evangélica de “esperar” até o casamento para ter relações, seria muito difícil de acreditar que os poderosos Batmen cristãos não ficassem de ponta-cabeça a sós em suas batcavernas – se é que vocês me entendem. Então, por que estigmatizar só as mulheres? Qual a responsabilidade do crente/macho/viril diante do deus judaico-cristão?

Por que a igreja católica desde 1968 condenou o uso de anticoncepcionais? Usar contraceptivos não seria uma espécie de aborto/assassinato à luz da Bíblia? De acordo com Gênesis 38, sim!

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Segundo Daniel Helminiak:

“ … muitos hoje rejeitam atitudes e práticas bíblicas sobre nudez, relações sexuais nos períodos de menstruação, modos de se referir aos órgãos sexuais e ao ato sexual, a “impureza” do sêmen e do sangue menstrual, endogamia, casamento levirato e regras sociais baseadas no princípio de que a mulher é propriedade sexual do homem. Obviamente, muitas de nossas opções são arbitrárias”.

Helminiak vai mais além quando diz que no debate a respeito da procriação surge a questão da lei natural; ou seja, que a sexualidade pertence à lei da natureza para propósito definido – filhos. Destaca também que quando não se tem o objetivo de procriar, a ordem da natureza é violentada.

“Obviamente, todas as formas de sexualidade humana alheias à procriação caem dentro desse princípio: masturbação, uso de anticoncepcionais, atos sexuais não genitais entre marido e mulher e homossexualidade. Não é justo que se aplique o princípio apenas a um dos elementos da lista. A ética sexual protestante tem sido, em geral, mais celebrativa e menos dirigida a fins. É por isso que as teologias protestantes nunca condenaram o uso de métodos anticoncepcionais”.

O jovem/macho cristão se considera “impuro” quando acontece uma suposta polução noturna ou (supostamente) se masturba? A simples crença no perdão divino o torna puro ou um abortista absolvido?

O mais agravante de tudo é vermos a total ignorância, brutalidade e prepotência dos machos bíblicos diante das vidas de mulheres, crianças e bebes em gestação. Eu desafio a todos e todas (cristianistas) que se dizem contra o aborto a rasgarem de suas bíblias versículos como estes:

DEUTERONOMIO 28.53 – “E comerás o fruto do teu ventre, a carne de teus filhos e de tuas filhas que te der o Senhor teu Deus, no cerco e no aperto com que os teus inimigos te apertarão”.

II REIS 15.16 – Menaem corta ao meio todas as mulheres grávidas.

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Se você – cristão – se diz contra o aborto, seja realmente de fato contra todas as formas praticadas e não apenas numa que te isenta de culpa e não expõe a vergonha de tua religião. Culpar apenas a mulher é uma pratica religiosa firmada em passagens bíblicas nas quais a mulher é acusada de ser a causadora de todo o mal.

ATENÇÃO! Próxima resposta ao Nikolas abordará a suposta IDEOLOGIA DE GÊNERO.

REFERÊNCIAS

HELMINIAK, Daniel A. O que a Bíblia realmente diz sobre a homossexualidade [Tradução Eduardo Teixeira Nunes]. São Paulo – SP: Summus, 1998.

WINK, Walter; NELSON, James B.; JENNINGS, Theodore W.; COBB JR. B. John; JOHNSTON, Robert K.  Homossexualidade Perspectivas Cristãs. Tradução de Jaci Maraschin. São Paulo: Fonte Editorial, 2008.

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